quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Polêmica Histórica


Carta mudaria marco fundador do Estado

Pesquisador diz que tropeiro português teria chegado antes em Rio Grande

Uma carta do coronel de ordenanças Cristóvão Pereira de Abreu, português de nascimento, ao general brasileiro Gomes Freire de Andrada, em 27 de setembro de 1736, pode reescrever a história gaúcha. Ela seria o documento que marcaria a origem do Estado e alteraria em quatro meses a data oficial da fundação, estabelecida como 19 de fevereiro 1737. Assim, o Rio Grande do Sul teria 275 anos e não 274 como se prega atualmente.

Os dados foram apresentados ao tradicionalista Paixão Côrtes, durante visita ao sul do Estado. Côrtes está na região para o conhecer o Ponto de Cultura Freguesias Litorâneas, em São José do Norte. Convidado pelo jornalista Willy César, pesquisador da vida de Abreu, o folclorista foi ao local onde supostamente estaria sepultado o tropeiro, no centro de Rio Grande.

Na recuperação histórica de César, Abreu teria chegado à localidade de São Pedro de Rio Grande ao lado de 160 homens, durante o percurso entre Sorocaba (SP) e Colônia do Sacramento (Uruguai). No local, criou as bases para o forte Jesus-Maria-José (primeira construção gaúcha) e teve confrontos com indígenas que habitavam o Estado. Quatro meses depois, orientava a chegada do brigadeiro José da Silva Paes ao porto de Rio Grande.

Historiador discorda da nova versão

Após trocarem informações e mapas sobre a história dos tropeiros – primeiros desbravadores de estradas do Brasil – César e Côrtes comentaram a possibilidade da revisão histórica. O folclorista considera importante estudar mais a influência desses povos na formação gaúcha.

– Precisamos ampliar as pesquisas para trazer cada vez mais informações sobre os tropeiros na cultura – disse.

Uma suposta briga entre Abreu e Silva Paes seria o motivo do esquecimento do tropeiro na história gaúcha.

Especialista em Rio Grande do Sul, o historiador Luiz Henrique Torres discorda da versão de que o Estado tenha começado por Cristóvão de Abreu. Apesar de reconhecer a importância do tropeiro e a sua chegada à cidade antes de Silva Paes, o professor da Universidade Federal do Rio Grande (Furg) considera o brigadeiro português como o fundador de fato.

Segundo Torres, como a ação histórica de Abreu foi apenas de reconhecer o terreno, esboçar mapas, preparar fortificações, não pode ser considerada como colonizadora.

– Na análise histórica, não podemos atribuir a quem chegou primeiro o fato de ter colonizado a região. Estabelecer regras, criar uma administração, organizar, isso é fundar um local. Não fosse assim, poderíamos dizer que os fundadores do Estado são os indígenas – analisa.
Matéria Zero Hora (20/10/2011)

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